Corria o ano de 1994 e Maria Teresa Maia Gonzales publicou A Lua de Joana, um livro que nos é apresentado como uma espécie de diário. Na verdade são apenas cartas datadas, escritas por Joana, uma rapariga de 14 anos, para Marta, uma amiga sua que faleceu de overdose. Estas cartas não são mais do que desabafos, uma maneira muito pessoal de tentar perceber como é que Marta, uma rapariga sociável e que vivia no meio de uma família estável, entrou naquele mundo e acabou de forma tão trágica. Mas a obra não vive apenas deste drama.
As cartas de Joana mostram-nos o seu dia a dia, relatam como é viver numa família em que os país estão demasiado ocupados a viver para o trabalho, com um irmão que pouca convivência tem com a irmã, e apenas ter uma avó com quem falar. Apesar de não ter grandes diálogos com a família, todos têm grandes esperanças em Joana, esperam que ela consiga sempre ser a melhor e que consiga ter sempre notas elevadas. À medida que a jovem escreve as cartas, vamos acompanhando o seu crescimento e o que a ele está subjacente: o interesse por outras pessoas, novos hábitos e gostos. Podemos até concluir que Joana era uma menina prodígio, jogava basket e tinha as melhores notas das turmas, qualidades que fazem quaisquer pais orgulhar-se dos filhos. Mas com a morte de Marta, e mais tarde da avó, Joana começa a desprender-se de todas estas expectativas e qualidades, e enverga pelo caminho que levou à morte de Marta. Incialmente, a jovem experimentou as drogas só para saber o que é que a sua amiga sentia, queria perceber porque é que tinha começado com aquilo. Foi só depois desta experiência que Joana conseguiu desculpar a amiga, porque finalmente tinha percebido que não era fácil deixar aquele mundo. Joana tentou, por várias vezes, deixar as drogas, mas era sempre mais forte que ela, acabou por vender vários objectos pessoais e de valor, para conseguir sustentar o seu vício. E quando pensou que já estava livre, que tinha conseguido, finalmente, ver-se livre de todo aquele pesadelo, deixou de escrever mais cartas à sua amiga Marta...

Pessoalmente considero A Lua de Joana, um dos melhores livros, que li até hoje, que aborda o tema da drogas e os problemas que a acompanham.  É, para muitos, uma obra de carácter demasiado negro e dramático. Será? Vejamos, a autora conseguiu, através de umas simples cartas de uma rapariga de 14 anos, ilustrar o que, se calhar, se passa com muitos jovens. Será isto uma maneira muito rude e frontal de encarar a realidade? Ou será apenas uma maneira de alertar os jovens, e também os pais, que é muito fácil entrar neste mundo das drogas, mas que é muito mais difícil sair? A linguagem usada nas cartas de Joana é muito simples e acessível, poderia adpatar-se a qualquer jovem de 14 anos. O dia-a-dia de Joana é semelhante ao de muitos jovens, quer da época em que o livro foi editado quer actualmente. É uma obra intemporal. Os problemas familiares continuam a existir, bem como competição por ser o melhor ou os problemas da adolescência. É um livro que não tem uma faixa etária destinada, é acessível a qualquer pessoa. É uma forma, bastante simples e comum, de demonstrar aos pais, que os jovens, não importa a idade, precisam de diálogo e apoio, pois ainda acabam por outros caminhos, neste caso a droga.
A quem ainda não o leu, aconselho-o vivamente.



«... nunca imaginei que fosse tão fácil uma pessoa passar-se para o lado de lá, o lado para onde tu passaste, o lado que eu sabia que era ERRADO!»
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